Alo malta =)
Back to real life!
Foram sem dúvida os 21 dias mais intensos da minha vida, tanto fisicamente como mentalmente. Acordar as 7 da manhã todos os dias, entre campismos e hoteis, gerir a tralha, o GPS, a GoPro, as fotos, as gasolinas, os kms, as comidas... foi uma experiência que sem dúvida mexeu muito comigo, por todos os sentidos.
Tantas culturas para absorver, pessoas para conhecer, paisagens para ver...sem contar com a condução. Tivemos dias de puro êxtase, com pistas no Senegal de 160 kms por entre as árvores da savana, pistas de deserto na Mauritânia e Saara Ocidental onde a Miss África completou 100.000 kms...!! E sem um único problema, muito graças ao grande trabalho que foi feito em conjunto com o Rui Marques (o mestre das ATs cá do Norte) e à ajuda de quem me apoiou, e às dicas que me foram dadas pela malta mais experiente que eu.
Sinto que o ginásio que fiz todos os dias nos 8 meses anteriores foram fundamentais para conseguir aguentar a pedalada, uma vez que mesmo apesar de em termos de dificuldade de percurso não ser muito complicado, a quantidade de kms diários davam cabo de cada um. Sem contar com o regresso, uma vez que fui o único que voltei com a moto a rolar por estrada, com tiradas de até 1000 kms diários. Mas valeu cada segundo. Fazer algo deste género com uma organização que está sempre 120% disponivel para nos ajudar facilita muito as coisas, por exemplo com o transporte do material que possibilita que nos possamos focar no prazer da condução, nas fronteiras e paragens constantes feitas pela polícia que em qq um dos países sabia quem nós éramos e mandavam-nos sempre seguir após dois dedos de conversa sempre sem qq tipo de problema (coisa que não acontece numa viagem entre amigos) assim como também nas ajudas mecânicas que no meu caso resumiu-se a um furo no regresso.
De qualquer forma, a qualquer um que cogite alinhar numa futura edição, sem dúvida: preparação física, e preparação mental para entrar em modo "papa kms" =)
Havia dois momentos muito esperados nesta aventura, um era a chegada à vila de Gambasse na Guiné-Bissau onde iriamos entregar parte do material escolar/hospitalar e não só recolhido previamente, e a chegada ao Lago Rosa e à Praia de Dakar.
No primeiro caso, foi dos momentos mais emocionantes que já pude sentir na pele. Não tinha ideia, mas aquando da nossa chegada à vila tinhamos toda a sua população de 500 habitantes a nossa espera, desde de manhã, com cartazes, música e muita festa. Foi um momento que nos marcou a todos, inclusive depois na manhã seguinte quando fomos entregando algum do material. Impagável. Principalmente tendo em conta o material que foi, escolar e as roupas e os brinquedos. É impressionante a quantidade de crianças que se vê em todo o lado, de 500 em 500 metros. E na vila não era excepção, dos 500 habitantes cerca de 300 são crianças. Estes dias tivemos direito a um vídeo de agradecimento por parte deles feito na escola da vila que não deixou ninguém indiferente.
O resto do material foi sendo entregue durante a viagem, contudo é apenas de Marrocos para baixo que trago mais memórias. Isto porque achei uma grande diferença entre as crianças de Marrocos pré e pós atlas das crianças da Mauritânia, Senegal e Guiné-Bissau, mas principalmente destes últimos dois. Aqui vi, conviví e ofereci material a crianças que não tinham ponta de malícia, e quando não tinhamos nada para oferecer não eram chatas e insistentes, apenas queriam ficar ali conosco e tentar falar conosco e perceber que raio estavamos ali a fazer e que armaduras estranhas eram aquelas que usavamos, entre outras coisas. Além disso, estar a almoçar no meio do nada alguns enlatados acompanhado de meia dúzia de crianças, oferecer as últimas duas salsichas da lata a uma delas fazendo sinal para que seja para dividir por todos, e ela caminhar meia dúzia de metros até encontrar os outros e dividir com elas o pouco que lhe foi oferecido não se esquece tão cedo, nem tão pouco é uma coisa que vemos acontecer normalmente por aqui com as "nossas" crianças.
E da mesma forma que notei esta diferença entre Marrocos/resto nas crianças, o mesmo aconteceu para os adultos e crianças mais velhas que nos acenavam sempre que passavamos. Vemos claramente que em Marrocos estão mais habituados aos viajantes, e poucos acenam mas muitos pedem. Daqui para baixo, notava-se na cara das pessoas a felicidade de nos ver passar, porque inverteu-se o número de pessoas a pedir, e simplesmente acenavam para nós de sorriso na cara. Na Guiné-Bissau então parecia que em certas zonas nunca ninguém tinha ali passado, toda a gente parava para cumprimentar. Nunca acenei tanto como nestes dias lol...
Para culminar todas estas experiências, chegar ao Lago e à praia são momentos que nunca mais se esquecem. Principalmente a praia, cujo acesso era um caminho em areia com algumas centenas de metros a subir em que no topo a paisagem se abre e damos de caras com a praia ao fundo. Memorável. Acelerar ali, na areia, na água, dar uns saltitos, parar e absorver tudo foi tudo e muito mais do que tinha imaginado.
A-C-O-N-S-E-L-H-O =)
...mas como tudo, não é fácil, temos que manter horários e cumprir kms, não fazemos o ritmo que queremos e temos que cumprir com tudo isso a que fazer parte duma organização obriga, mas vale a pena. Sendo fisicamente super desgastante, fazer uma viagem desta envergadura sem o apoio logístico e principalmente fronteiriço e policial de hora em hora seria um pesadelo.
Em breve sai o report completo no
emAzimute com um par de vídeos à maneira.
Para já, ficam algumas fotos que fui aprtilhando no facebook durante a viagem, assim como mais algumas por parte da organização, para vos abrir o apetite =)