A aventura começou precisamente num dia muito bom, dia 24 de Novembro, dia de Greve Geral!!
Já tínhamos conhecimento da greve, contudo mantivémo-nos firmes na convicção de que os serviços mínimos nos iriam sorrir. E não é que no meio de tanto azar tivemos uma sorte brutal... o nosso voo (o último do dia) foi o único que se realizou entre Ponta Delgada e Lisboa!
Só um voo...
...num aeroporto deserto.
Lá fomos nós para a capital na esperança que tudo nos corresse bem e que a sorte que tivemos nesse dia nos acompanhasse durante todo o evento. Eu e o Bruno íamos participar em duas motas cujo nosso conhecimento sobre elas era pouco (no meu caso) e nenhum (no caso do Bruno).
À chegada ao aeroporto da Portela entrámos em contacto com o proprietário da
KTM 990 Adventure S que o Bruno ia levar, o Luís Deus. Depois de trocarmos umas palavras e de ficarmos a par das manhas da KTM seguimos de imediato para o Hotel. Dar com ele não foi fácil, mas depois de perguntar e de perceber melhor o GPS, gentilmente cedido pelo Deus, lá chegámos... e descansámos.
O dia seguinte começou bem cedinho e rápido até ao transitário para ir buscar a minha
Ténéré. Depois de a despir de todo o plástico protector seguimos rumo a norte. Eu fui preparado para levar bagagem na mota, contudo a mota do Bruno tinha duas malas laterais e foram suficientes para carregar as nossas coisas durante toda esta aventura.
O nosso grupo iria ficar composto em Águeda com mais 3 amigos, o M. Silva, o A. Neto e o Filipe. A viagem fez-se por Auto-Estrada... uma seca. Andar sempre em 6ª com velocidade cruzeiro na ordem dos 120-130 km/h e mais nada. Saímos em Mealhada, já era hora de almoço, e esta paragem era obrigatória
Águeda foi a próxima paragem. Passados alguns minutos o grupo ficou composto com a chegada do A. Neto na sua
Honda Pan European e do Filipe mais a sua
Honda Transalp, enquanto que o M. Silva levava uma
KTM Adventure 990 R. Cumprimentos, uma troca de palavras, montar nas motas e seguir para cima... Chaves, aqui vamos nós!
A preparar para o arranque.
Seguindo o grande M. Silva fomos em caravana por estradas nacionais e quando o tempo começou a ficar mais apertado decidimos metermo-nos pela auto-estrada.
Mais à frente estavam a cortar árvores.
Mais uma seca na 6ª mudança durante largos minutos, mas teve de ser. Nem tudo estava a correr bem, uma vez que a mota do Bruno estava a dar problemas na embraiagem que chegaram a fazê-lo ponderar na sua não participação neste evento já em Chaves. E tinha razão para isso, pois a manete esquerda estava sem qualquer pressão e as mudanças entravam a seco, mas o pior era quando tinha de parar no trânsito de Chaves e a mota ia abaixo, dando-lhe uma valente dor de cabeça durante umas horas antes de se ir deitar. Mecânicos para cá, chamadas para lá, óleo para cima, experiências para baixo, conversas... foi de tudo um pouco. Finalmente, depois de várias tentativas conseguiu-se arranjar a dita, ou pelo menos tínhamos essa esperança. No dia seguinte, o da prova, fazer-se-ia o teste. Tenho a certeza que o Bruno dormiu com os
dedos cruzados!
Hall exterior do Hotel.
Briefing
Ainda durante esta noite abastecemos as motas para adiar a nossa primeira paragem o mais possível, carregámos o mapa nos GPS, colocámos os autocolantes nas motas e capacetes e trocámos algumas palavras com outros intervenientes.
Acordámos pelas 05:00 e ao olhar pela janela do 8º piso deparámo-nos com um cenário pouco animador, mas que em nada beliscaram o nosso desejo de começar a andar de mota. Estava muito nevoeiro, o que associado às baixas temperaturas iriam de certeza prejudicar a nossa progressão no começo. Pequeno-almoço tomado, motas carregadas, vestimento térmico e restante equipamento colocado e siga... Faro esperava-nos 790km depois!
Como suspeitávamos os primeiros kms não foram fáceis. O nevoeiro associado ao frio (muito frio) impedia-nos de andar mais depressa por razões óbvias, pois a visibilidade era pouca e o receio de apanhar gelo era algum. Chegámos a apanhar -5ºC. Quando o sol levantou-se conseguimos ver melhor o cenário onde estávamos inseridos onde sobressaía o branco das pastagens nas bermas da estrada.
Das poucas paragens que não foi para abastecer.
Não se nota muito, mas a luva tinha gelo.
-1,3ºC e antes tinha estado -5,0ºC
Andámos ainda um bocado pelo Peso da Régua onde o nevoeiro lá em baixo fez-nos companhia durante uns kms.
Parar, fotografar e andar!
Ao longo da N2 nós tivemos de fotografar 6 locais como prova de que passámos por ele. Era um controlo fotográfico onde nós sabíamos apenas a que km ele estava enquanto que o local teríamos de procurar de acordo com as fotos dadas pela organização.
Se uns estavam acessíveis, outros nem por isso. Na foto seguinte demos pela sua falta uns kms depois e lá tivemos de voltar par trás para encontrá-lo, mas não foi fácil. Aqui a N2 ficou submersa pela albufeira.
Próxima paragem foi num almoço volante, acho que perto de Penacova. Aqui o P. Silva na sua
KTM SMT 990 juntou-se a nós e decidimos almoçar mais tarde, até porque eram cerca de 11:00 e parecia que estávamos atrasados.
Parámos num parque uns kms à frente, almoçamos e seguimos viagem. O ritmo nunca foi calmo, não me refiro à velocidade do passeio, mas às paragens durante a viagem.
A temperatura por esta hora já era bem melhor e rolava-se com mais conforto neste aspecto.
Mais um controlo fotográfico no marco 300
O Bruno...
...não sei bem onde.
Outro controlo. Centro geodésico de Portugal!
As duas Adventures foram por outros caminhos.
Mais um controlo, este num miradouro
Deve ser interessante, mas agora não.
Chegar, fotografar e andar... sempre ritmado. O corpo já começava a ressentir-se da maratona, mas ainda havia muito para andar. As motas não se queixavam, principalmente a embraiagem da mota do Bruno estava a resistir.
Lá está, as nossas paragens ou eram para os controlos ou para reabastecer as motas, não havendo tempo para mais nada. Por volta dos 200km de cada tanque parava-se na 1ª estação que aparecesse. Todos abasteciam... uns mais que outros. Neste ritmo e neste tipo de vias a Ténéré provava ser a mais poupadinha, fazendo médias de 4-4,5L/100km. Com a capacidade de 22L poderá chegar aos 400km de autonomia o que é muito bom. Nestes reabastecimentos aproveitávamos para conversar um pouco e beber alguma coisa.
De um reabastecimento para outro, da foto anterior para a seguinte. Sem paragens pelo meio, sempre a aviar!!
Já no Alentejo
Aqui as rectas sucediam-se, a Té não se recusava a andar depressa, mas este não é manifestamente o seu habitat e o consumo aumentava apesar de não ser preocupante. Felizmente essas longas rectas sempre davam para acumular uns kms mais depressa é que o corpo já começava a ressentir-se de 12h de viagem...
Mais um controlo
A partir desta foto houve umas dezenas de kms de diversão pelo Caldeirão. Ou o P. Silva, ou o M. Silva marcavam o ritmo seguidos por mim e pelo Bruno, respectivamente. O A. Neto e o Filipe tinham continuado a viagem rumo a Faro no abastecimento anterior. As curvas sucediam-se umas às outras, não havia recta com mais de 200m, apanhámos ao todo uma meia dúzia de carros, o piso estava impecável e limpo... brutal!! Faro bem pode esperar, a sensação de gozo era imensa nem parecendo que já tínhamos uns 700km no corpo e umas 13h de viagem.
Chegada ao fim!!
Outros iam chegando.
Daqui fomos para o Hotel em Vilamoura, local muito bem escolhido pela organização. Motas e mais motas no parque.
Para que não houvesse dúvidas
Depois de tomar um reestabelecedor duche era hora de jantar e confraternizar um pouco com alguns intervenientes deste evento. Todos cansados, muito cansados mesmo, mas extremamente satisfeitos de terem superado uma prova à sua mota e a si mesmos. Algumas dúvidas haviam em Chaves, mas poucas restaram em Faro. Desafio superado! A minha monocilíndrica estava baptizada tendo-se portado à altura deste duro evento.
Entrega de uma lembrança a cada participante.
Caí que nem uma pedra na cama, pudera.
Acordei cheio de apetite e o pequeno-almoço este ao nível das exigências de todos. Maravilha! Altura de apreciar o parque de estacionamento deste hotel.
Bruno a apreciar uma bela Triumph.
No dia anterior, em que fizemos Chaves-Faro o conta-kms acusava 803km, sendo este um record pessoal e da mota também, claro.
Mas ainda havia uns quantos kms a acumular, pois seria necessário regressar a Lisboa.
Fomos com os nossos colegas até Santarém, local onde nos despedimos. Enquanto eles rumaram a Norte nós fomos para Sul, sem no entanto deixar de provar uma Sopa da Pedra... já eram 16:00 e ainda não tínhamos almoçado.
Em jeito de conclusão, quero dar os parabéns à organização e aos ideólogos deste evento que tem todas as condições para continuar. Chegar a Faro significou muito para todos, este é um desafio para quem gosta de andar de mota, não para quem gosta de motas, é que a diferença fará sentir-se a partir de determinada altura. Se em Chaves as dúvidas pairavam sobre as cabeças de alguns, desde se seriam capazes de aguentar fisicamente, se o cansaço não se apoderaria do corpo, se a máquina não se ressentiria... a chegada a Faro foi o superar de alguns destes limites. Fizemos mais de 800km pelo nosso país num só dia e isto ficará connosco para sempre. Se és uma pessoa desafiadora e gostas de andar de mota este é o desafio ideal, mais que o Lés-a-Lés. Recomendo vivamente.
Para finalizar, um agradecimento aos meus colegas de aventura que também estiveram muito bem, sempre bem dispostos e montados em grandes máquinas. Superámos a N2 juntos! Até à próxima.
Filipe, A. Neto, Bruno, P. Silva, eu e o M. Silva