Leitores de road-book - a minha história

O primeiro raide TT que fiz de Moto foi uma Ronda dos Castelos na Figueira da Foz há 24 anos. Foi uma m*rda relativamente a cumprir percurso porque me deram um road-book, coisa de que nunca tinha ouvido falar. Eu sempre tinha sido do alcatrão e da pista.

Lá prendi o caderno A5 ao travessão do guiador de cross com uma mola que fui comprar a uma papelaria, como vi fazer aos outros.

No percurso nocturno como não via nada limitei-me a seguir um gajo que tinha uma lanterna colada ao espelho a apontar para os papéis.
No dia seguinte, lá fui seguindo o caderno de itinerário como se diz em português. Ia rasgando e deitando fora as fohas à medida que mudava de página (o papel é biodegradável), mas foi uma gaita quando me perdi e não tinha "itinerário" para retomar o fio à meada.

Depois acertei numa pedra num riacho, caí, e os papéis passaram a pasta. No regresso a casa já vinha a esquematizar uma "coisa" tipo cassete para me ajudar na tarefa de ir passando as páginas e ter luz para de noite, que naquilo dos Raides não dava para levar copiloto como nos Rallies.

Construí o primeiro leitor de road-book, e os Amigos começaram a pedir-me para também fazer para eles. Em 1992 fiz a versão definitiva que ainda em 2009, quando deixei de os fazer, se mantinha. Mais alta que a original 10mm para caberem 100 páginas e sem interruptor para a luz porque com a vibração o interruptor avariava.

Lembro-me de 1 ano depois de ter "inventado" o meu, o Abel da Horizmoto aqui no Porto me ter dito que a Acerbis também já fazia "zingarelhos" como os meus e mostrou-me um.
Achei-os foleiros, estilo tupperware, sem luz, e com os veios solidários, presos um ao outro por o'Rings grandes. Como é que pode, se os diâmetros do rolo de papel vão variando o que também varia a velocidade angular? Para enfolar o papel, ou então para o rasgar?
Fiquei com curiosidade de saber quem o inventou primeiro.

O Paulo Marques que vendeu muitos dos feitos por mim chegou a pedir-me um eléctrico para o primeiro Dakar que fez, mas disse-lhe não lho fazia. Peça feita por mim é para meter e esquecer e eu não tinha condições para descobrir um motor eléctrico fiável que não se lembrasse de deixar de funcionar no meio do deserto. Nem pensar, rodar o veio com a palma da mão é muito fácil.
Havia uma Empresa em Lisboa, a Terra Firme, que em Novembro me encomendava uma quantidade grande para levar para o Dakar. Os eléctricos avariavam, e os Amadores vinham comprar os leitores de road-book portugueses, disseram-me.

Leitor de road-book que tenha sido feito por mim tinha (e tem) garantia vitalícia com muito orgulho meu. Se alguma coisa funcionar menos bem, ponho-os como novos de borla. Se fôr por acidente, só tem de pagar a chapa e eventualmente o vidro. Nunca vi um com o veio empenado.

Contruí-os durante 20 anos para facilitar a vida a quem tem de seguir um road-book de pé (ou sentado) numa Moto. Como disse deixei de os construir em 2009. A "fábrica" era na minha garagem e o horário coincidia com os meus tempos livres. Quando deixei de os construir, passei o know-how a um Amigo do Moto Clube do Porto que os continua a construir e vender. Fotos da última remessa:

Pelo que percebi,estás a vender estes road-book?
Como ficam na fase final de acabamento e que valor tem?
Estou comprador de um mas gostaria de saber como ficam.

Desculpa Jorge, mas não, não os estou a vender. Só vim aqui contar como foi que os comecei a fazer.
Como escrevi, agora já não sou eu quem os faz, passei a pasta

Boas...

Acho que vi isso à venda no site da Federação Portuguesa de Motociclismo

a fixação até era feita com 2 serra cabos


talvez seja os mesmos

Que ligação extraordinária tens ao mundo das duas rodas!

Edgar escreveu:

talvez seja os mesmos

São os mesmos, Edgar. Sabes tudo Pesquisei no Google e encontrei no Fórum da Federação. Aparece um gajo a dizer que vende e é esse meu Amigo

frdsilva escreveu:

Que ligação extraordinária tens ao mundo das duas rodas!

Muito obrigado Foram 20 anos. Também vendi aí para a Madeira, muitos para os Açores. Deixo aqui umas fotos para verem como eram simples. Mais simples só o espectacular fogão do Edgar Qualquer curioso do FVM consegue fazer um destes leitores de road-book.
Se precisarem das medidas...

Boas;
Aí está uma prova de que a necessidade apura o engenho.
Angelo, bela descrição do que era o motociclismo há uns tempos atrás. Há muita gente que anda de moto agora e nem sequer tem noção das dificuldades que o pessoal tinha há uns anos atrás.
Os leitores têm muito bom aspecto.

road book

Bom trabalho sim Sr

Boas,

então tu és o Angelo Lopes a quem comprei o leitor, bem me parecia um nome familiar, depois de tantas horas com o autocolante com o teu nome e tm à minha frente, não admira

aproveito para te felicitar pela excelente obra, já fiz uns bons milhares de kms a navegar com o teu leitor e tenho optima opinião dele. Parabens

...e fica bem na minha XT


https://clubextportugal.forumeiros.com/t1257-apresentacao-ricardo-brantuas

Abraço

Este mundo é mesmo pequeno. Em dezembro de 2009 eu e um amigo meu compramos dois dos teus últimos 3 road books para fazer o les-a-les de 2010!

Lembro-me que na altura fizemos uma prospecção de mercado e os teus eram de longe a melhor relação qualidade/preço. Hoje, depois do o ter usado numa VStrom, numa Multistrada e agora vai para a Tenere, a opinião mantêm-se!

Grande abraço,
Javier D'Ercole.

Ricardo, Javier... tá boa. Eu vendia aos Amigos dos Amigos dos Amigos, começam a aparecer Muito obrigado pela v/ confiança, agora até é mais fácil se estiverem a precisar de uma revisão

Isto não era a minha profissão. Dava-me gozo ver tanta Moto com peças feitas por mim, vendi para Espanha, França e Alemanha, e tenho uma MotoVerte com uma reportagem do Dakar onde aparecem os meus leitores

Deixei de os fabricar quando apareceram os primeiros leitores de road-book não-artesanais, os F2R que também recomendo apesar de custarem o dobro. E também tenho orgulho que a F2R tenha falado nos meus quando os leitores F2R fizeram a sua primeira aparição pública

Ricardo não apareces na base de dados que tenho de toda a malta que me comprou leitores. Nem tu nem a Ericeira. Deve ter sido um Amigo teu que encomendou e se calhar mais do que um como era costume, não?


Abraço,

angelo_lopes escreveu:

Ricardo não apareces na base de dados que tenho de toda a malta que me comprou leitores. Nem tu nem a Ericeira. Deve ter sido um Amigo teu que encomendou e se calhar mais do que um como era costume, não?


Abraço,

é habitual nas encomendas dar morada do escritorio e o meu ultimo nome

vê se tens:

Bingo Ricardo. Comprado no dia 15 de Maio de 2008 Mais curiosidades:

O Pedro Vilas Boas que juntamente com o Zé Megre organizaram as primeiras edições do Portalegre, e este ano, com 70 anos, vai participar encomendou-me 2 leitores para folhas A4. Fotocopiava as cartas militares em A4, fazia o rolo, e era assim que preparava os percursos para os raides.

O Nuno Barradas de Almargem do Bispo, meu velho Amigo e companheiro nos antigos Raides a Portugal que duravam uma semana, comprava-mos e depois quitava-os. Metia borrachinhas para não entrar pó e água Estilo o que a AMG faz aos Mercedes, mas a AMG deixa a estrelinha, o Nuno sacava de lá o meu nome, telemóvel e endereço do site

Outro Amigo meu também me comprava muitos e depois vendia-os como se fosse ele que os fazia.
Um dia descobri isso no site dele A maneira como ele os inventou...


Este ano quando fui levar a Versys à Alemanha, fiz o percurso no ViaMichelin, mandei imprimir com o papel deitado para ficar em A5 (é só cortar as margens brancas), e fiz assim o road-book para o percurso. Um luxo pois tinha o preço das portagens, a localização dos radares fixos, e mandava-me parar para descansar salvo erro de 200 em 200 Km,


Só precisei das novas tecnologias GPS (TomTom do iPhone) em Paris porque o percurso do road-book estava encerrado para obras. Mal retomei o percurso, continuei por road-book.




Abraço,